Gato, o holandês errante e eu
Viver e não ter a vergonha de ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser um eterno aprendiz
Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será
Mas isto não impede que eu repita
É bonita, é bonita e é bonita
Luiz Gonzaga Jr.
a Ana Paula, por traerme
dos buenos amigos; a Candela, por sus ojos: que los quise esa noche; a Kiovet,
por leerme
con ilustración de René Grau
por Frank García-Hernández con
edición de Mara Miranda
Ainda posso ouvir a música de Ana Costa nos meus
ouvidos após de toda uma noite de rebolar com seu canto. As onze da noite da quinta-feira,
com a semana morrendo e após de tanto dor pelo furacão Matthew em Cuba, além de
minhas lembranças feridas com uma Baracoa que parecia perder as suas assas,
cheguei a salão de concertos de Fábrica
de Arte Cubano. Lá, uma mulher no estrado, cantava com o público e o
público ficava mexido com suas palavras.
Ana Costa, trousse pra nós o samba de Noel, Cartola, Tom Jobim e
Vinícius de Moraes.
Eu não tinha a oportunidade de ter ao vivo desde o ano 2001, quando uma representação
da Escola de Samba de Mangueira visitou
Cuba e apresentaram-se no teatro Mella.
Ontem, as vozes duma brasileira cantora, dum pandeiro carioca e dum violão paulistano,
voltaram com seus orixás pra minha terra.
Quem sabe se os músicos de Ana Costa fossem de outros lares de Brasil, é
possível que aquele fosse nordestino e esse mineiro, mas, minha saudade de homem
de ilha, precisa fazer-se seus próprios sonhos, ainda mais quando eles tem de
parceiro o samba na Havana.
Embora é certo que Fábrica de Arte
resulta um dos pontos mais cosmopolitas da cidade, acho que era difícil ganhar a
meu grupo de amigos. Nós três éramos a somatória de um mexicano –o cineasta o
Gato Adolfo-,
um holandês –o fotógrafo Marcel- e eu, um cubano que acredita na poesia de
viver.
O Adolfo virou pra o Gato pelo jeito de que nas Europas ainda seu nome
tem cheiro de morte. Ele foi viver pra Holanda há poucos anos e agora visita
Cuba junto seu amigo Marcel, com a ideia de realizar um breve documentário
sobre a ilha caribenha e sua gente.
Ele achou um pais com muitas mudanças, mesmo na arte, mesmo no mercado
ou na política, mas as mudanças, ao contrário do que a imprensa mundial fala, são
passos feitos pelo mesmo povo cubano na sua necessidade de agiornamentar-se e não pela pressão do governo do presidente Obama.
Um dos detalhes que ele descobriu foi a estandardização das artes
plásticas cubanas e a inserção do desenho na –suposta- neutralidade dos patrões
visuais pós-modernos nos quais cada cidade pode ser outra e os Starbucks replicam-se no planeta com idêntica
estrutura.
É certo que ainda a Havana não os conhece –parabéns seja- nem de Starbucks nem de Mc. Donald. Você pode caminhar toda a ilha e não achar uma
propaganda da Coke e sim dois grandes
monumentos de Lenine, embora o restaurante El
Cocinero, o mais perto vizinho de Fábrica
de Arte Cubano, pode ser trousse de Paris, Reikiavik ou Montevideo. Não tem
nenhuma alusão a Cuba salvo os cubanos que trabalham lá e as latas de cerveja Bucanero ou Cristal, porque pra mais, o menu mesmo é a repetida “comida internacional”.
Fábrica de Arte Cubano não fica livre dessa dor. Mas acontece algo, por que
o público cubano visita tanto esses lugares? Os cubanos, pelos efeitos da
Guerra Fria, viveram muito tempo fechados, a maioria não tem os recursos pra
viajar e ter o mar como fronteira é um feito que pode ser castram-te pra o mais
decidido viageiro.
Inserir o mundo em Cuba –ou a perspectiva do mundo que tem a pessoa que
o faça- parece ser a ideia mais percorrem-te hoje na Havana. A metade –quem sabe
mais-, dos visitantes ao centro cultural onde apresentou-se Ana Costa, são turistas.
Boa parte deles europeus e norte-americanos. As mostras de artes plásticas, do
cinema apresentado, e também os músicos convidados, são estrangeiros; e isto
ajuda pra que Cuba fique aberta ao mundo, e o mundo á Cuba.
Minha noite terminou cantando viver
e não ter vergonha de ser feliz, ao tempo que sambava com uma loira de
cabelo cumprido quem me lembrava de uma amiga chilena-alemã, mas, embora soubesse
rebolar, não tinha a candela dos seus olhos. E o Gato, como todo felino, dono
da noite, voltava pra casa navegando com o holandês errante.
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